-69- Menina do Papá!

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Fui jantar a casa do Pai para comemorar a notícia. Estavam lá os pais da Verónica que, apesar de nunca me terem tratado mal, apesar de nunca terem sido arrogantes ou distantes comigo, não consigo sentir por eles o mesmo que sinto pelos pais do Nuno, por exemplo. Estava eu, no sofá, encostada o meu pai quando a mãe da V diz "aproveita, porque esse colo daqui a uns meses vai ter outra dona!"...

Já não sou a miúda que chorou quando soube que ia ter um irmão, que detestou a ideia até olhar para ele pela primeira vez. Não senti ciúmes, mas confesso que aquilo me magoou. Eu sei que terei sempre o colo do meu Pai, sei que terei sempre a sua atenção e, principalmente, o seu amor. Sei que a minha irmã vai ser tão amada e bem tratada quanto eu. Talvez mais, porque ter um filho programado aos 44 anos é diferente de ter um filho, fruto de um descuido, aos 17. Sei que ele será um Pai diferente, e não poderá ser de outra forma, mas sei que o amor que tem por mim não mudará.

Mas magoou-me. Magoou-me a forma como ela o disse, a razão pela qual o disse. O meu Pai deu-me um beijo na testa, percebeu o meu espanto, talvez tenha percebido que eu gelei.

Estou feliz por eles, estou feliz com a vinda da bebé, estou verdadeiramente feliz. E este jantar podia ter sido feliz, podia ter acabado da melhor forma. Eu nem sou de ligar a estas coisas, mas uma pessoa fraqueja. Eu fraquejei. Podia ter levado na brincadeira e ter respondido com uma piada. Mas não consegui, há coisas que não consigo.

E aqui estou eu magoada com uma frase cuja acção eu sei que nunca será realidade. Magoada porque apesar de amar a minha família, de ter crescido desta forma, de estar habituada a isto desde sempre, talvez tenha algo cá dentro que ainda me faça reagir assim. É a minha fraqueza.

E agora vão dormir, voltem amanhã quando isto voltar ao normal! Desculpem!